TRABALHANDO
AS DIFERENÇAS
Corrêa, Vânia Reginato
Duarte, Leyza Souza
E.E. de E.M. “Bibiano de Almeida”
Rio Grande
Percebíamos que nossos alunos estavam com
dificuldades de se constituírem enquanto turma, pois viviam debochando uns dos
outros, colocando apelidos pejorativos nos colegas, brigando por qualquer
motivo.
Como tentativa de unir a turma, trabalhamos as
historinhas dos gibis e filmes da Turma da Mônica. Porém, após analisar as
historinhas, as crianças concluíram que a Mônica batia no Cebolinha e no Cascão
porque eles colocavam apelidos nela. Que era feio colocar apelidos, pois só
temos uma coisa em comum: somos todos diferentes e, se somos diferentes, não
podemos debochar de ninguém por isso.
Neste
momento, surgiram nas turmas envolvidas no projeto, o desejo de trabalhar com
as diferenças. Acreditamos que, para que haja aprendizagem efetiva, é
necessário ir além dos conteúdos. Textos, palavras ou letras trabalhadas em
aula serão tanto mais ensinantes quanto mais contextualizados semanticamente
nesses universos dramáticos (GROSSI, 2006).
A dramática apresentada na história:
Branquinho, o dognauta, leva em consideração os aspectos lógicos e dramáticos
no processo de aprendizagem. Os lógicos são puramente os conteúdos e os
dramáticos envolvem as emoções e os desejos.
“Toda aprendizagem repousa no valor
simbólico do que se quer aprender. Ler e escrever não foge a esta regra. Por
isso, se as escritas forem ricas de sentido para os alunos, mais chance elas
oferecem para que as aprendizagens sejam também ricas.” ( GROSSI, 2007)
Neste momento, optamos por trazer este
elemento surpresa para a sala de aula. Apresentamos aos alunos uma caixa em
formato de nave espacial e pedimos que escrevessem o que suponham haver ali
dentro. Lemos no grande grupo as hipóteses levantadas pelos alunos e
posteriormente, permitimos que abrissem a nave espacial. Dentro da nave, surgiu o personagem com o qual
trabalhamos: Branquinho.
Branquinho, o dognauta era um cachorro que chegou na Terra num disco
voador. Ele era todo branco, tinha orelhas no lugar dos olhos, os olhos atrás
da cabeça, o rabo do lado do corpo, usava um capacete e andava em pé. Por onde
ele passava, juntava um monte de curiosos querendo saber porque ele era tão diferente.
Então, Branquinho foi levado ao
veterinário para “consertá-lo”, para poder viver na Terra. Ele foi operado e
ficou igual aos cachorros da Terra, porém ficou todo preto e teve que mudar seu
nome para Pretinho.
Cientistas da Nasa examinaram o
cachorrinho e constataram que ele era um dognauta, vindo do Planeta Plutão.
Os cientistas pediram ao veterinário que
operou o dognauta que fosse
até
Plutão, fazer umas investigações
interplanetárias.
Quando a nave espacial chegou, o
veterinário viu que todos os habitantes eram dognautas, igual ao Branquinho.
Os dognautas ficaram espantados, pois
nunca tinham visto nada igual. Resolveram pegar aquele bicho esquisito (o
veterinário) e operá-lo, para que pudesse viver sossegado no meio dos
dognautas.
Depois da operação, o veterinário,
apavorado, conseguiu fugir. Entrou na nave espacial e voltou para a Terra,
correndo para o primeiro hospital.
Este ser igual ou ser diferente é muito
relativo. O dognauta era diferente dos cachorros da Terra, mas em Plutão, seu
planeta de origem, era igual a todos os outros.
Após a reflexão da história, construímos
com os alunos um Texto Coletivo e apresentamos um Glossário Alfabetizador, destacando
palavras significativas.
A cada dia fomos trazendo para sala de
aula diferentes histórias que tivessem um pertencimento a dramática trabalhada
e levassem os alunos a refletir sobre diferentes possibilidades.
Literatura
trabalhada :
- “Alguém Muito Especial” de Miriam Portela
- “O Planeta Lilás” de Ziraldo
- “Pato Magro e Pato Gordo” de Mary e Eliardo França
- “Menina Bonita do Laço de Fita” de Ana Maria Machado
- “Um Palhaço Diferente” de Sônia Junqueira
- “Lilo e Stitch em: Um Amigo Especial” (Contos Disney)
- “Um Amigo Diferente”, “Meu Amigo Down, em casa”, “Meu Amigo Down, na rua” e “Meu Amigo Down, na escola” de Claudia Werneck
- “A Felicidade das Borboletas” de Patrícia Engel Secco
Após as narrativas foram propostas
dramatizações , bem como escritas espontâneas, a fim de que os alunos
“sentissem na pele“ as limitações impostas pelas diferenças.
Outras atividades contemplando a temática
foram realizadas, incluindo um cineminha em sala de aula. Assistimos ao filme: “Happy
Feet” e vivenciamos junto ao
pingüim, protagonista do filme, a aventura de ser diferente
Após um
intenso trabalho que envolveu além de muita sensibilização, jogos,
brincadeiras, desafios, bem como diversas provocações à leitura e à escrita,
culminamos este projeto com uma aula cultural no Teatro Municipal onde
assistimos à peça: “Dona Baratinha”, encenada pelos
alunos da APAE de Rio Grande e ao espetáculo
de música e dança da APAE
de São José do Norte.
Um
dos alunos das turmas envolvidas, extremamente tímido, teve a oportunidade de relatar
ao grupo que tinha um irmão diferente, que não frequentava a escola, agredia a
ele mesmo e as pessoas com quem convivia. Ficou claro o quanto isso o
incomodava anteriormente, porém, após esse trabalho, sentiu-se mais fortalecido
e confiante para lidar com a situação, o que fez dele um aluno mais
participativo e integrado na turma.
Ao final do trabalho, percebemos os alunos
mais preparados a conviver com as diferenças, respeitando e aceitando cada ser
humano dentro de suas possibilidades. A turma solidificou-se com este trabalho,
fazendo com que as aprendizagens fluíssem de modo mais eficaz.
Referências Bibliográficas
GROSSI,
Esther Pillar. Aprender é formular
hipóteses... ensinar é organizar provocações. Porto Alegre, 2006.
_______________. Didática
da Alfabetização. São Paulo: Paz e Terra, 1990.
_______________.
Uma nova maneira de estar na sala de
aula. São Paulo: 2007.